domingo, 15 de novembro de 2009

inacreditável;

O clima era estranho, lógico, eu estava muda e com uma cara de paisagem que nem eu havia presenciado antes, eu poderia ter dado uma desculpa qualquer e ido embora pra não ter que passar por aquilo, mas não o fiz, e agora ele estava de pé ao meu lado me acompanhando como uma guarda costas. Imagino como ele deve estar se divertindo. Que droga, essa tal paixão não me fez bem algum. Calei meu pensamento ao ver que ele tentava gesticular alguma coisa.
- o que?
Porque eu sou assim? Ele não havia me feito pergunta alguma. Mas desse jeito não dava pra continuar quis puxar assunto. E como eu não estou num dia de sorte, não tenho o que dizer a não ser “o que?”.
- sabe, eu a compreendo perfeitamente, não precisa ficar maquinando alguma coisa pra me dizer, e nem precisa me impressionar também. Quis te fazer companhia porque não estava mais agüentando de fato ficar nesse shopping, mas se minha presença está tão incômoda, já podemos nos despedir, e eu já sou crescidinho, não vou ficar magoado.
Paft! Foi como um golpe na barriga, eu já sabia que estava tendo uma crise interna comigo mesma, mas não pensei que estivesse tão claro. Corei. Não havia escapatória a não ser me desculpar.
- desculpe, está tão na cara meu desespero pelo chão do meu banheiro?
- o que?
Imagino o que ele deve ter pensado, me veio uma vontade intensa de gargalhar, porque foi exatamente isso que ele fez com minha insanidade. Chão do banheiro? Isso era apenas uma guerra dentro de mim, qual foi a minha intenção de dizer isso a ele? Tem como piorar? Ah, tem sim.
- olha, lembra do que eu te falei? Do péssimo dia que estou tendo? Pois então, não dê muito crédito pro que digo, não será nada muito coerente.
A cara que ele olhava pra mim, era como se estivesse olhando pra uma menina de 15 anos, que estava em crise de existência e gostaria de se jogar de um penhasco. Bom, o caso não era o mesmo, mas a ideia poderia me cair como luva.
- tudo bem, estou peneirando o que você diz faz um tempo. Percebi que o caso era grave.
Ele soltou um sorriso largo e simpático. Sim, ele era uma graça, eu poderia afogar minhas mágoas naqueles lindos braços bem torneados, não poderia? Me peguei babando por ele num surto momentâneo, mas ele me interrompeu quando eu quase caí.
- ei! Pode se equilibrar, por favor? Vem cá, segure no meu braço.
Ele pegou meu braço e segurou em volta do dele, estremeci com o toque. Até que não é tão ruim conhecer pessoas num dia péssimo, acho que até me saí bem. Uma garota me fitou de longe, enquanto eu andava de braços dados com o salvador do dia, por um longo minuto ela me encarou como se estivesse entender a cena que via, mas depois resolvi parar de olhar, não fazia muito sentido pra mim. Bom não fazia mesmo nenhum sentido pra mim. Mas ela veio em nossa direção decidida, sem tirar os olhos dos meus, então eu parei.
- conhece aquela menina vindo em nossa direção?
Cutuquei Rafael para que ele pudesse vê-la, e abruptamente ele me largou, me fazendo desequilibrar e quase cair de cara no chão, sorte um estande de bolsas está ali quando se precisa. Arregalei os olhos pra reação dele. Ele se pôs na frente da menina que vinha mais rápido e segurou seus braços enquanto ela gritava.
- quem é ela? O que pensa que estão fazendo? Ficou maluco? Perdeu completamente a noção? Responde Rafael!
Minhas pernas bambearam, minhas mãos ficaram geladas e tive a sensação de um jato quente cobrir meu rosto, estava pasma. Ele tinha uma namorada, e ela estava bem na minha frente tentando me matar. Mais que espécie de pé frio eu sou? Nenhum cara solteiro pode ser aproximar de mim? Quem me jogou essa maldição? Fiquei completamente sem ação. Parada. Imóvel.
- Laila, pare de gritar!
Ele lutava com seus braços em raiva, com a menina que fazia um pequeno “barraco” dentro do shopping, e o pior: eu estava no tal “barraco”.
- então me fale! Quem é ela? Seu cretino! Não tinham um lugar melhor para desfilarem juntos? Idiota, me solte!
Enquanto ela berrava me fulminando com os olhos, eu não conseguia me mover, eu costumava ter esse tipo de reação diante de brigas, ficava completamente imóvel, em tranze, como se tivesse sido hipnotizada. Gostaria de correr, sim, correr pra bem longe, mas minhas pernas não obedeciam ao meu comando, eu fitava pasma a menina aos berros, e o Rafael tentando acalmá-la.
- Emily! Eeeei! Emily!
Por que eu estou ouvindo vozes, esse garoto nem sabe meu nome, será que estou tendo um desmaio? Ou estou presa num mundo do qual não consigo sair? O que está acontecendo?
- Emily!
Quando consegui me concentrar na vida real novamente avistei minhas amigas correndo junto com os meninos na minha direção, berrando meu nome pelo shopping, nunca presenciei uma cena tão constrangedora. Havia uma pequena multidão vem volta da menina escandalosa, Rafael e eu. Não conseguia acreditar.
continua...

sábado, 14 de novembro de 2009

sem sentido;

- oi, tem alguém sentado aqui do seu lado?
Pelo amor de Deus, que pergunta é essa? Ele não ta me dando uma cantada não né? Emmy, menos! Ele só quer ser educado, pensa assim. é óbvio que esse é o tipo de pergunta completamente tosca, e hoje é um dia péssimo pra um assunto qualquer com qualquer indivíduo, mais enfim. Olhei pra ele tentando abrir um meio sorriso, que ficou péssimo por sinal.
- não, tudo bem, o lugar está vago.
Assenti completamente desinteressada.
- estou esperando meus primos terminarem de rodar pelo shopping, não agüento ficar perambulando de um lado pra outro assim, é um saco.
Ele disparou a falar, sem que eu ao menos desse esse tipo de brecha. Olhei incrédula pra ele na primeira frase, sem conseguir me concentrar no que ele dizia, enfim ele se calou.
- ah desculpe pelo desabafo.
E sorriu meio sem graça.
Me encolhi com meu desprezo, me senti mal, não quero sair por aí sendo uma completa imbecil por culpa de um idiota. Ai, estou pior do que eu previra, talvez precise de terapia intensiva. Resolvi dialogar, talvez fosse a melhor coisa a fazer.
- também deixei minhas amigas andarem sem mim, estou exausta.
Tentei outro meio sorriso, estava sendo infeliz quanto a isso. Não sei disfarçar mesmo.
- afim de um desabafo?
Ele se virou a mim, tão simpático que me deixou encabulada. Talvez isso tivesse me deixado um tanto à vontade.
- paixão platônica. Conhece?
Ele riu, isso me fez rir também, e dessa vez com uma leveza normal e transparente sem muito esforço.
- conheço muito bem! Você ta sofrendo desse mal?
Fiquei muito inspirada com o interesse dele nessa conversa de adolescente. Comecei a analisar o tal, devia ter uns 19 anos? Não sei, sou péssima com idades alheias. Ele não me atraía muito, ta, pelo amor de Deus, eu tava gamada num outro tal aí, não poderia já sair me apaixonando por outro assim né? Tudo bem, eu poderia.
- muita coisa. Mais é uma plena e irracional criancice logo tem que passar! Não agüento mais.
Desabafei com um completo desconhecido. Isso é coisa minha mesmo, como se confiar em alguém que se acaba de conhecer? Essa pergunta nunca deve ser feita a mim, a não ser, que não queira coerência nenhuma. Enfim, eu viajo.
Dois meninos vieram em direção a nossa mesa, cochichando alguma coisa, não deviam se muito novos assim, talvez uns 15 ou 16 anos.
- oi gente, desculpa aí interromper, mais a gente já rodou tudo por aí. Cansamos. Mas, quer que a gente ande mais um pouquinho? Se liberar a grana nós poderíamos ir ao cinema.
Falou um loirinho com cabelos lisos, magro e de boa aparência, que estava todo risonho, soltando piadinhas e cutucando o outro que parecia ser mais novo.
Não consegui manter um sorriso por muito tempo, gostei de ter conhecido gente nova mesmo nesse dia que tudo resolveu acontecer, mas não ia conseguir ficar conversando por mais tempo. E minhas amigas estavam vindo o mais rápido possível pelo fato dos meninos estarem perto de mim. Cheguei a achar um pouco de graça nisso.
- oi amiga, nem apresenta os amigos hein.
Tagarelou July.
Não consegui conter uma risada.
- bom, nem eu fui apresentada, acabei de conhecê-los.
Eu realmente nem tinha percebido que não me apresentei. Aliás, ninguém se apresentou por aqui, e ele foi logo falando.
- ah, desculpa. Meu nome é Rafael. E esses são meus primos Caio e Marcos.
Ah sim, Caio era o loirinho fofo, e Marcos o moreninho lindinho, que interessante, família bonita, se fosse um outro dia eu estaria mais eufórica que nunca, e ninguém me faria arredar o pé dali, mas não hoje. Eu estava de luto. Luto pela morte do meu amor platônico pelo desconhecido, estava dando adeus ao garoto comprometido, que não me dava à mínima, e estava me libertando para um novo amor que pudesse ser correspondido.
- pronto. Estamos todos apresentados, mas, eu tenho que ir agora meninas, mas eu acabei de saber que eles querem ir ao cinema também, assim vocês poderiam se conhecer melhor, minha mãe não para de ligar e vocês sabem como é não é?
Falei dando um tom que eu estava certa do que queria, e pra minhas amigas isso bastava.
- bom se vocês quiserem estamos indo ao cinema mesmo.
Falou o loirinho despojado.
Malu estava em plena euforia como eu deveria estar, achei que seria ótimo pra elas.
- bom eu vou deixar vocês irem ao cinema e vou com ela pode ser? Não agüento mais andar nesse shopping.
Disse Rafael olhando pra mim, talvez se perguntando se eu o reprovaria. Fiz cara de paisagem, não tinha uma expressão melhor.
- por mim tudo bem.
Disse Marcos todo feliz.
- ah, por mim também ficaria, você vai ficar bem amiga?
Malu olhou dentro dos meus olhos pra averiguar se eu não mentia quanto a querer ir embora.
- sim. Vou ficar ótima. Tenho tantas coisas pra colocar em dia.
Então todos decidiram, se despediram e foram andando, contando coisas e fazendo gestos, eu fiquei acompanhada do Rafael, que me impediu de colocar os fones de ouvidos e ir viajando até o ponto de ônibus.
Fomos descendo as escadas rolantes, e eu não dizia uma palavra, ficava apenas com cara de paisagem e fitava o nada. Mas ele, ele não. Ele ficava me olhando, me encarando, me averiguando, me medindo. Nossa, a
final de contas, eu não fazia a menor ideia de quem era esse garoto, não é mesmo? Estremeci.
continua...